A Câmara Municipal de Viana do Castelo acaba de divulgar uma nota onde afirma que «a rede de núcleos museológicos agregados ao Museu do Traje de Viana do Castelo foi considerada “caso exemplar” no panorama dos museus» tendo sido «reconhecido o trabalho da autarquia para dinamizar estas estruturas como uma forma de gestão cultural consistente e sustentável». O que a autarquia não refere é que o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido não só não tem nada de gestão cultural como nem sequer é sustentável porque sustentado um financiamento de quase meio milhão de euros dos fundos comunitários, dos quais mais de 200 mil euros serão gastos em publicações e documentários, 6 dos quais já adjudicados ainda no mandato do anterior presidente do município.
 

Esta é a última informação algo polémica divulgadda pelo actual executivo em matéria de cultura e atractividade ou promoção turística, uma vez que os museus da cidade e do concelho têm tido uma crescente onda de diminuição da procura e, em matéria de economia de escala, Viana do Castelo nunca registou ganhos significativos para o tecido comercial e económico.

Antes disto, já a autarquia tinha apresentado o documentário “Alto do Minho” pago com fundos comunitários e encomendado pela Câmara Municipal de Viana do Castelo mas exibido, em antestreia um mês antes no Lindoso. O documentário segue-se a outra produção cuja edição foi igualmente custeada pela Câmara Municipal: o livro de fotografias “Romeiros Pilgrins” e que foi divulgado profusamente aquando do lançamento na página do Facebook deste projecto.

 

 

 

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Ao editar 3000 exemplares de um livro que contém imagens disponíveis em várias redes sociais como o Flickr ou o Olhares, a autarquia procura agora vender a publicação por 25 euros na Biblioteca Municipal enquanto o autor recebeu 200 exemplares que colocou à venda na sua própria loja virtual, no que resulta num claro desperdício de fundos comunitários que deveriam servir para outras actividades bem mais consonantes com o desenvolvimento cultural da cidade.

 

 

 

Segundo a câmara municipal, o documentário foi realizado para o Museu do Traje, no âmbito de uma candidatura ao QREN que integra ainda um conjunto de outros seis documentários etnográficos que serão realizados pela Ao Norte Audiovisuais e que serão apresentados brevemente.

Para quem estiver interessado aqui fica a prova e o valor de quanto custam os vídeos ao erário público.

 

Por outro lado, a Câmara Municipal de Viana do Castelo aprovou, em reunião de executivo, o nome do Museu de Arte e Arqueologia, que agora passa a designar-se Museu de Artes Decorativas. Esta é a terceira mudança do nome do espaço e fica a dever-se ao facto do museu ser detentor de um dos maiores acervos de artes decorativas dos museus nacionais.

Diz a autarquia que «a designação Museu de Arte e Arqueologia, criada em 2008 para substituir a designação genérica de Museu Municipal, ficou a dever-se à exposição no corredor e debaixo dos arcos de arqueologia. Uma vez que, pela falta de condições do espaço, a exposição ficou com pouca dignidade, foi desenvolvida na Casa dos Nichos uma exposição com um discurso museológico coerente sobre a arqueologia de Viana do Castelo, o sector de arqueologia do Museu desapareceu. A proposta assenta ainda na constatação de que a designação Arte remete essencialmente para artes plásticas (pintura e escultura), que não são a parte principal do Museu e que a Arqueologia foi deslocada para outro espaço, verificou-se que a designação anterior não correspondia ao conteúdo do museu. Agora, o Museu de Artes Decorativas tem um dos mais importantes acervos de artes decorativas através das colecções de mobiliário (peças dos estilos D. João V, D. José e D. Maria ou de verdadeiros tesouros que são os contadores e outras peças indo-portugueses) e louça (com uma colecção de peças das melhores fábricas históricas de todo o país, com uma especial incidência na fábrica de Viana, de que detém uma das mais importantes colecções nacionais). Também o próprio edifício reforça esta importância das Artes Decorativas, pois, sendo um solar urbano do século XVIII praticamente inalterado, mostra um ambiente de época, onde se destaca a decoração das salas de aparato com um conjunto de painéis de azulejo.»

Já em 2010 foi anunciado o projecto de criação de uma Base de Dados de Postais de Traje Vianense, que integraria cerca de novecentos postais e abrangendo um período entre o início do século XX e a década de 1980. A apresentação dos postais deveria permitir ter acesso a informações diversas, como o tipo de traje, a situação em que foi feita a imagem (pose, trabalho real, festa), a data em que foi feito (quando é conhecida), o editor, e outras informações que poderão ser úteis para estudiosos, coleccionadores, e simples curiosos.  Segundo a autarquia, a recolha de postais foi feita em colaboração com os coleccionadores de postais vianenses Miguel Ângelo Sá, José Escaleira, Gonçalo Fagundes e António Carvalho e ainda com os postais do Arquivo Municipal de Viana do Castelo mas a tal base nunca foi colocada à disposição do grande público, apesar de estarem a ser reproduzido num blogue local.

 

Tudo isto contraria o que o próprio chefe de divisão de museus que numa palestra em Caminha afirmou em 2009 que «desta forma o Museu participa de uma forma integrada e sustentada na política cultural municipal, facilitando o investimento de meios (financeiros e humanos) na criação de entidades que têm garantia de sustentabilidade, consistência científica e continuidade no tempo, em vez de se esvaírem em pequenos apoios soltos e inconsequentes, até porque a criação do núcleo museológico implica uma co-responsabilização do investimento».

 

Tanto mais que, até hoje ainda não foram sequer explicadas quais as são as ideias que estão subjacentes à linguagem documental que deveria percorrer transversalmente os vídeos.

 

 

Paralelamente, a AO NORTE – Audiovisuais apresentou o designado “Portal Lugar do Real”, um sítio de visionamento do documentário, de filmes e vídeos escolares e da fotografia documental, uma plataforma de divulgação da fotografia documental, entendida como memória do séc. XX.  Como forma de custear este site, a actual Câmara Municipal comprou um AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual para a realização de um documentário de 15 minutos sobre o ouro de Viana e intitulado “O ouro a que a mulher de Viana deu beleza” e que integrou o programa cultural de encerramento da Presidência Portuguesa da União Europeia. O DVD terá interesse pedagógico e deveria registar as principais peças tradicionais em ouro na cultura popular, assim como a sua evolução e uso na região. No entanto, o site não só é produzido por uma multinacional espanhola, como o material inserido, de domínio público, não é manuseável.

 

 

Fica a pergunta: para quando uma verdadeira gestão da cultura em Viana do Castelo?