Depois de anos a fio, durante a vigência do mandato do anterior presidente da Câmara Municipal, Viana do Castelo foi-se habituando a assistir a cerimónias de distribuição de distinções durante as comemorações da elevação da vila da foz do Lima à categoria de cidade. Se umas (poucas) foram merecidas, outras nem por isso e até foram sendo gastos milhares de euros em livros que agora estão amontoados no hall de entrada da  Biblioteca Municipal, aquela que recebeu hoje, pela primeira vez, a sessão que serviu também para assinalar os três anos de inauguração do espaço. 
É certo que todas as cidades distribuem “(en)comendas” mas a ética de quem gere os destinos dos espaços urbanos deve ter limites, tal como qualquer organização em qualquer parte do mundo e o que se viu na Sala Couto Viana levanta uma questão pertinente: Pode um arquitecto ser considerado cidadão de mérito (título que só deve ser atribuído a pessoas com feitos dignos de registo e executados sem qualquer interesse primário numa medalha) depois de ter sido pago para “desenhar” um edifício? 

O que é arte? E o que é um artífice? Onde começa a ética de quem recebe dinheiro para uma empreitada e acaba o alegado “reconhecimento que todos os vianenses ansiavam”? São questões que podem parecer descabidas mas se todas as cidades declarassem como cidadãos de mérito todos os arquitectos e outros artífices então teríamos de distribuir medalhas por todos os que fazem a cidade. 

É que a arquitectura só assume o verdadeiro papel de elemento artístico quando não existem contratos prévios, nem encomendas e, mesmo que essas “papeladas” existam, só se pode falar em arte quando alguém toma a ousadia de criar algo de novo pois que se assim não fosse todos seríamos artistas, bastando-nos comprar um qualquer pack de pintura pré-fabricado e fazer como os chineses que vendem essa “arte” às centenas nas lojas que por cá vão semeando). Aliás, alguns críticos de arte comentam frequentemente que Michelangelo foi um “mercenário” e não um artista porque os seus trabalhos eram pagos maioritariamente pela Igreja Católica mas o problema é que o grande concorrente de Leonardo Da Vinci (apenas nas artes plásticas e na arte urbana) ousou criar algo de novo e exclusivo servindo-se da Capela Sistina (a tal onde os Cardeais elegem o Papa enquanto olham para os frescos do tecto onde pairam corpos nus).

O que fez Siza Vieira de tão especial em Viana do Castelo que não tenha “desenhado” noutras cidades pelo mundo fora a troco de milhares de euros? A pala da Expo 98? A repetição da regra dos seus edifícios quadrangulares rodeados de janelas onde o eco é tanto que até o silêncio faz barulho?